A inseminação artificial, também chamada de inseminação intrauterina, é uma técnica de baixa complexidade da reprodução assistida. A técnica consiste em introduzir no útero da paciente uma amostra seminal previamente processada — utilizando métodos que visam a seleção dos espermatozoides de melhor qualidade.
Já no corpo da mulher, os gametas masculinos se movem até às tubas uterinas, onde o óvulo está à espera para ser fecundado. Quando um dos espermatozoides se une ao óvulo, dá origem ao zigoto, que percorre as tubas de volta à cavidade uterina, enquanto passa pelos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário. No quinto dia, o embrião está pronto para se prender à parede do útero e dar início à gestação.
De forma resumida, a inseminação artificial facilita o encontro dos gametas e a fertilização, uma vez que encurta o trajeto dos espermatozoides — os quais teriam que superar uma série de barreiras no trato reprodutor feminino.
A inseminação intrauterina é indicada com algumas ressalvas, ou seja, o tratamento não é bem-sucedido para todos os casais. As chances de sucesso dependem de condições como a idade da mulher, a permeabilidade das tubas uterinas e os parâmetros da amostra seminal.
Assim, a indicação é feita preferencialmente para pacientes abaixo dos 37 anos, com pelo menos uma tuba desobstruída — do lado de um ovário funcional — e no mínimo 5 milhões de espermatozoides de boa qualidade após o preparo seminal.
Além disso, a inseminação artificial é indicada somente em casos brandos de infertilidade, incluindo:
Os distúrbios de ovulação estão entre as principais causas de infertilidade feminina, sendo a síndrome dos ovários policísticos (SOP) o diagnóstico mais comum. A paciente pode ter boa reserva ovariana, mas os ciclos ovulatórios são infrequentes ou ausentes. Nesses casos, a estimulação ovariana com indução à ovulação pode ajudar.
Pacientes anovulatórias podem primeiramente tentar o tratamento de reprodução com outra técnica de baixa complexidade: a relação sexual programada (coito programado). Para isso, é preciso que o parceiro apresente parâmetros seminais normais. Após três falhas em ciclos de coito programado, a inseminação artificial é realizada.
Alterações leves na morfologia ou na motilidade dos espermatozoides são toleráveis para o tratamento com inseminação artificial. Isso porque, com as técnicas de processamento seminal, é possível selecionar os gametas de melhor qualidade e com potencial fecundativo. Já os casos de fator masculino grave, como azoospermia (ausência de espermatozoides no ejaculado), são prontamente encaminhados para o tratamento com fertilização in vitro (FIV).
O diagnóstico de ISCA é dado quando, mesmo com profunda investigação da saúde feminina e masculina, nenhum fator de infertilidade é encontrado. Esses casais podem iniciar o tratamento de reprodução assistida com as técnicas de baixa complexidade e, se necessário, recorrer à FIV, ou podem tentar diretamente uma fertilização in vitro, devido às taxas elevadas de sucesso da técnica.
Mulheres que querem ser mães sem um companheiro, assim como casais homoafetivos femininos, podem concretizar seu objetivo de gravidez com uma inseminação artificial. Para isso, utiliza-se a doação de sêmen e, conforme as normas do CFM, doadores e receptores não devem conhecer a identidade uns dos outros.
Assim como na realização da FIV, que segue um extenso passo a passo, o tratamento com inseminação artificial também passa por algumas etapas — embora seja um processo mais simples. Veja como a técnica é realizada!
A inseminação artificial, assim como os outros tratamentos de reprodução assistida, começa com a estimulação ovariana. Contudo, o controle da ovulação pode requerer, ou não, a intervenção com medicamentos hormonais.
Em ciclos estimulados, são administrados hormônios indutores da ovulação, que aumentam a função dos ovários para obter dois ou três óvulos maduros. Em ciclos naturais, somente um óvulo chega ao estágio final de maturação.
O desenvolvimento dos óvulos é monitorado por ultrassonografias e, quando eles apresentam o diâmetro esperado, uma injeção de hCG é administrada para promover a maturação final e o rompimento do folículo que abriga o óvulo.
O controle da ovulação também pode ser feito em ciclos não estimulados, isto é, quando a mulher realiza o tratamento sem medicamentos para estimular a função ovariana. Nesses casos, o crescimento natural dos folículos pode ser igualmente acompanhado por exames de ultrassonografia e dosagens hormonais para estimar o dia da ovulação.
O protocolo de estimulação ovariana é diferente nas técnicas de baixa e alta complexidade. Na FIV, o objetivo é conseguir um número maior de óvulos, chegando a dezenas em um mesmo ciclo, conforme a capacidade de resposta de cada paciente.
O sêmen do parceiro da paciente é coletado e processado no mesmo dia da inseminação. É possível ainda utilizar uma amostra previamente preparada e congelada, o que também ocorre quando o sêmen foi obtido de banco de sêmen. Assim, o material é descongelado e depositado diretamente no útero da paciente.
O preparo seminal é feito com técnicas de capacitação espermática, que simulam as barreiras naturais do organismo feminino para fazer a seleção dos melhores espermatozoides. Assim, os gametas imóveis ou morfologicamente alterados são descartados da amostra.
Em ciclos estimulados, a inseminação é feita entre 35 e 40 horas após a aplicação do hCG. Em ciclos não estimulados, a amostra seminal é colocada no útero da paciente entre 12 e 15 dias após o início do período menstrual — lembrando que a menstruação marca o início do ciclo reprodutivo e a ovulação acontece cerca de duas semanas depois.
O procedimento de inseminação intrauterina é simples, rápido, indolor e pode ser realizado em ambulatório. Com a paciente em posição ginecológica, uma fina cânula guiada por ultrassonografia abdominal é utilizada para depositar a amostra de esperma no interior da cavidade uterina. Recomenda-se um breve período de repouso/imobilização e, alguns minutos depois, a mulher pode retomar suas atividades de rotina e aguardar o tempo recomendado para realização do teste de gravidez.
A taxa de sucesso da inseminação artificial é de cerca de 15%. Na definição do tratamento, a paciente é devidamente informada sobre suas chances de gravidez e pode decidir se prefere tentar a inseminação ou partir direto para uma FIV. Cabe ressaltar que fatores como a idade materna, o estado da reserva ovariana e a qualidade do sêmen são determinantes para os resultados.