O uso do sêmen de doadores teve início há mais de 100 anos. Com o avanço das técnicas da medicina reprodutiva, a doação de óvulos, ou ovodoação, também se tornou uma realidade e nas últimas três décadas tem sido um recurso valioso para mulheres que não conseguem a gravidez com os próprios gametas.
A primeira gestação resultante de uma fertilização in vitro (FIV) com óvulos de uma doadora aconteceu em 1984, poucos anos depois do nascimento do primeiro bebê humano por FIV. Hoje, quase 10% de todos os tratamentos de reprodução assistida são feitos com doação de ovócitos nos Estados Unidos e, dentre estes, a taxa de nascidos vivos ultrapassa os 50% por ciclo.
A doação de óvulos representou uma virada nos tratamentos de reprodução assistida e o aprimoramento da técnica, até chegar às aplicações atuais, é resultado de muita pesquisa nos campos da genética e da biologia celular.
Entretanto, essa prática envolve cenários clínicos desafiadores, como a preparação bem-sucedida do útero da receptora e a sincronização dos ciclos de doadora e receptora. Outro desafio é o número escasso de doadoras voluntárias.
A ovodoação é uma alternativa para mulheres que não têm quantidade suficiente de óvulos armazenados ou a qualidade oocitária é baixa a ponto de não conseguir formar embriões saudáveis. Várias condições podem estar por trás de disfunções ovarianas graves e alguns desses quadros não são passíveis de reversão.
Além dos problemas clínicos relacionados à produção dos óvulos, os gametas de uma doadora podem ser necessários quando há sérios riscos de a mãe transmitir alterações genéticas aos filhos.
O teste genético pré-implantacional (PGT) é útil para rastrear embriões com anormalidades. Contudo, quando o potencial de transmissão é muito alto, pode ser difícil recuperar algum embrião saudável.
De forma resumida, as indicações para considerar a doação de óvulos incluem:
A doação de óvulos pode ser feita de duas formas: voluntária ou compartilhada. A ovodoação voluntária é um gesto altruísta, portanto não envolve nenhum tipo de troca ou recompensa. A doadora passa por uma série de exames, incluindo avaliação da história clínica, estudo genético, testes de reserva ovariana, sorologias e avaliação psicológica.
Importante acentuar que, de acordo com as normas do Conselho Federal de Medicina (CFM), a doação de gametas e embriões não pode ser remunerada no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, as regras são outras e existe uma compensação monetária que reflete o tempo dedicado da doadora, bem como os riscos físicos e emocionais envolvidos.
Na ovodoação compartilhada, tanto a doadora quanto a receptora dos óvulos estão em tratamento de reprodução assistida, mas por fatores distintos de infertilidade. Dessa forma, elas fazem uma troca, ou melhor, o compartilhamento dos oócitos e dos custos do tratamento.
A doadora é submetida à técnica de estimulação ovariana, que consiste no uso de medicamentos hormonais para estimular os ovários a desenvolverem um bom número de folículos (unidades que abrigam os óvulos). Pouco antes da ovulação, a aspiração folicular é realizada para que os oócitos sejam analisados por um embriologista.
Na doação voluntária, os óvulos são congelados e assim permanecem até que um casal em tratamento os escolha. Na doação compartilhada, enquanto a doadora passa por estimulação ovariana, a receptora começa a preparação endometrial com medicamentos ou em ciclo natural, a fim de deixar o útero em condições favoráveis para receber os embriões.
A receptora e seu parceiro também passam por uma série de exames prévios, incluindo investigação da história médica e reprodutiva, testes sanguíneos, observação da cavidade uterina, análise seminal e avaliação psicológica.
Após os exames necessários, uma amostra de esperma, coletada pelo parceiro da receptora, é processada com técnicas de preparo seminal e os espermatozoides com melhor morfologia e motilidade são utilizados para fertilizar os óvulos doados. Os embriões gerados permanecem em incubadoras entre 3 e 5 dias, enquanto são monitorados durante as primeiras fases de desenvolvimento embrionário.
Em relação à prática da doação de óvulos, as determinações do CFM RESOLUÇÃO CFM nº 2.294/2021 incluem que: