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Teste de receptividade endometrial

O teste de receptividade endometrial — endometrial receptivity array (ERA) — é uma técnica complementar nos tratamentos de reprodução assistida, indicada para pacientes que apresentam falhas repetidas em ciclos de fertilização in vitro (FIV). Em muitos desses casos, a mulher apresenta janela de implantação deslocada e precisa de intervenção hormonal individualizada para melhorar as condições uterinas.

Essa técnica utiliza o método next generation sequencing (NGS) — sequenciamento de última geração — para fazer a análise dos genes envolvidos na receptividade uterina. Segundo os resultados, o útero pode ser considerado apropriado ou não para receber os embriões naquele período do ciclo. Pesquisas na área da medicina reprodutiva confirmam influência favorável do teste ERA em pacientes que falharam na transferência embrionária em ciclos anteriores de FIV.

O assunto pode parecer complexo, mas a partir da compreensão dos termos e conceitos entrelaçados, você terá um entendimento mais claro sobre o que é receptividade endometrial, implantação embrionária, análise por sequenciamento NGS e outras questões que abordaremos neste texto.

Qual é a relação entre receptividade endometrial e implantação embrionária?

Para falar de receptividade endometrial, o primeiro passo é entender o que é o endométrio: trata-se da mucosa interna do útero, é o tecido que reveste a parede uterina e o local onde o embrião se fixa para iniciar a gestação.

O endométrio é um tecido dinâmico que sofre alterações ao longo do ciclo menstrual, sob a ação dos hormônios ovarianos. Durante a fase proliferativa, o estrogênio estimula a proliferação das células endometriais, aumentando a espessura do tecido.

Após a ovulação, o aumento de progesterona confere um fenótipo mais receptivo ao útero — período chamado de “janela de implantação”. Assim, se o endométrio estiver com alguma alteração e não apresentar as condições apropriadas, o embrião não consegue se implantar.

A baixa receptividade endometrial pode estar relacionada à insuficiência hormonal, efeitos da endometrite (inflamação no endométrio), deslocamento da janela de implantação, entre outras condições. Por outro lado, as falhas de implantação podem ocorrer devido à baixa qualidade dos embriões, causada por problemas nos óvulos, falhas espermáticas, alterações cromossômicas etc.

Assim, vemos que a implantação humana é um processo complexo que depende de sincronia fisiológica entre um embrião saudável e um endométrio funcionalmente competente. Diante disso, o teste ERA foi desenvolvido como uma importante ferramenta de diagnóstico molecular para identificar a receptividade endometrial.

A aplicação do teste ERA em casos de falhas repetidas de implantação revelou a necessidade de uma transferência embrionária personalizada, tendo por referência o período do mês designado pelas análises como o mais receptivo.

Em quais situações o teste ERA é indicado?

O ERA não é uma aplicação de rotina nos programas de FIV, mas uma técnica complementar indicada em situações específicas, de acordo com a individualização do tratamento. A indicação é feita para os casos de falhas recorrentes de implantação (RIF) e histórico de endometrite.

Quando os ciclos de FIV não obtêm o desfecho esperado por pelo menos três vezes, o caso se enquadra na definição de RIF. Isso é comum em casais com infertilidade sem causa aparente (ISCA) — um diagnóstico feito por exclusão de todos os demais possíveis fatores de infertilidade feminina ou masculina.

Como vimos, inúmeras condições podem estar associadas às falhas de implantação, incluindo: baixa qualidade dos óvulos ou defeitos espermáticos, como a fragmentação do DNA dos espermatozoides; malformações no útero; trombofilia; endometrite. Sendo assim, investigações aprofundadas são necessárias para obter o diagnóstico correto e entrar com tratamentos pontuais.

Contudo, uma das causas de RIF pode ser o tempo alterado da janela de implantação. Reforçando que, em ciclos naturais, o endométrio adquire as características adequadas para receber um embrião depois da liberação do óvulo.

Esse fenótipo de receptividade é mantido por cerca de 3 dias, tendo início aproximadamente uma semana após a ovulação. Em algumas mulheres essa janela de implantação é deslocada, sendo necessária a análise pelo teste ERA para identificar o período mais receptivo do ciclo.

Pacientes com histórico de endometrite também precisam de uma atenção especial em relação às características endometriais. Trata-se de uma inflamação no endométrio, normalmente associada à doença inflamatória pélvica (DIP). Se identificada precocemente, o tratamento com antibióticos é bastante efetivo. Entretanto, os casos crônicos podem deixar sequelas que interferem na receptividade uterina.

Juntamente ao teste ERA, outras duas análises moleculares são úteis nos casos de endometrite: EMMA, que avalia a presença de bactérias saudáveis no tecido endometrial e ALICE, que investiga os patógenos envolvidos na endometrite crônica.

Como o teste ERA é realizado?

Para realização do teste ERA, os embriões são congelados e uma amostra de células endometriais é colhida durante o período estimado da janela de implantação. Pacientes com janela deslocada podem precisar de suporte hormonal antes da biópsia, para estimular o espessamento do endométrio — efeito que é monitorado por ultrassonografia para que a coleta celular seja feita no momento apropriado.

A análise pode apontar “útero receptivo” ou “não receptivo”. Diante da confirmação de receptividade em relação ao período analisado, a transferência dos embriões é agendada para o mesmo período do ciclo seguinte. Nos casos não receptivos, o teste pode revelar pós-receptividade, o que significa que a janela de implantação ocorreu dias antes da análise, ou pré-receptividade, sendo necessário reajustar as dosagens hormonais e refazer o ERA no próximo ciclo.

O teste ERA tem sido uma ferramenta aliada nos programas de FIV, aumentando os desfechos positivos para casais com RIF. Devemos ter em mente, no entanto, que a implantação embrionária depende da sincronia entre um útero receptivo e um embrião saudável, o que também depende da qualidade dos óvulos e espermatozoides.